A trajetória escolar de discentes pretas do ensino médio e técnico no IFRJ - CDuC: representatividade, perspectiva e acolhimento escolas.
Resumen
Desde o início do que se conhece como Ciências, segundo a tradição ocidental, a
marginalização baseada em preceitos racistas e machistas gerou – e ainda o faz
atualmente – diversos obstáculos impeditivos ao ingresso de mulheres e negros no
meio científico, bem como o apagamento e a deslegitimação da presença e dos
conhecimentos produzidos pelos que lá estão, ou estiveram. Tendo em vista a sub-
representação de cientistas negras na prática escolar – o que impacta a autoestima,
o comportamento e as escolhas das alunas pretas, este trabalho se propõe a discutir
experiências ligadas à representatividade na trajetória escolar das alunas pretas
matriculadas nos três últimos períodos dos cursos de Ensino Médio e Técnico
Integrado oferecidos pelo IFRJ-CDuC. Orientada pelo papel da escola e do Ensino de
Química na luta antirracista, esta pesquisa pretendeu analisar a existência da
discussão direcionada à história e à cultura africana e afro-brasileira na trajetória
escolar das alunas, no que tangeu à presença e ao conhecimento de cientistas negras,
analisando como essa a percepção as afetou. Foi utilizada a pesquisa qualitativa
como metodologia, em vista da qual optou-se por executar duas etapas de
levantamento de dados: formulário online e entrevista. O formulário foi destinado a
todas as estudantes matriculadas nos três últimos períodos dos cursos técnicos em
química e técnico em petróleo e gás, ambos integrados ao ensino médio. Já para as
entrevistas, foram convidadas alunas autodeclaradas pretas. Os resultados
demonstram que a maior parte das discentes identificam-se como não brancas e são
oriundas de escolas públicas da rede municipal de ensino. O estudo evidencia ainda
que, apesar de promulgada a Lei 10.639/03, a qual institui a obrigatoriedade do ensino
e História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena em todos os níveis de educação, o
currículo escolar ainda se desenvolve a partir da eurocentrização das Ciências, não
apresentando uma perspectiva positiva associada à imagem da população negra.
Aponta-se também que essa fragilidade é uma das responsáveis pela não
identificação de alunas pretas com algumas áreas de conhecimento. Partindo disso,
deve-se considerar o espaço da sala de aula de química na educação básica como
ambiente necessário ao processo de tomada de consciência no que se refere às
consequências de um Ensino de Ciências atravessado por uma ótica racista, uma das
responsáveis pelo afastamento de meninas e mulheres negras da área de ciências
exatas.