Conhecimento e preferência de profissionais de saúde e pacientes sobre escalas para medir a intensidade da dor: um estudo transversal.
Resumo
Introdução: A medida objetiva da intensidade da dor pode ser realizada por
diversos instrumentos, incluindo a Escala de Faces Revisada (FPS-R), Escala de
Avaliação Verbal (VRS), Escala de Avaliação Numérica (NRS) e Escala Visual
Analógica (VAS). No entanto, existem poucas informações sobre o conhecimento e a
preferência desses instrumentos por profissionais de saúde e pacientes. Objetivo: O
objetivo do presente estudo foi avaliar o conhecimento e a preferência dos
profissionais de saúde e dos pacientes em relação às escalas usadas para medir a
intensidade da dor. Métodos: Este estudo transversal foi composto por profissionais
de saúde e por pacientes com dor musculoesquelética. Para serem incluídos no
estudo, os profissionais deviam tratar pessoas com dor em sua prática clínica, sendo
recrutados por meio de redes sociais e convidados a responder a um questionário
online incluindo informações sociodemográficas e profissionais e de conhecimento e
preferência de escalas para mensurar a intensidade da dor. Foram incluídos
pacientes com idade superior a 18 anos, com dor musculoesquelética, recrutados
dos ambulatórios de um hospital universitário e de uma Clínica Escola e por meio de
mídias sociais. A entrevista com os pacientes foi realizada presencialmente e
adaptada para ser realizada por videochamada. Os participantes foram questionados
sobre o conhecimento e a preferência dos instrumentos FPS-R, VRS, NRS e VAS.
Os dados foram apresentados por meio de análise descritiva. O teste Qui-quadrado
foi realizado para análise de ajuste comparando as taxas de preferência para as
escalas. Resultados: O estudo consistiu em 390 profissionais de saúde (média de
idade = 35,2, DP = 7,79 anos; experiência média = 10,5, DP = 7,44 anos) e 94
pacientes com dor musculoesquelética (duração média da dor = 81, DP = 121
meses) com intensidade média da dor = 5,5/10 (DP=2,5). Dos profissionais de saúde
que relataram conhecer escalas de dor (n=365; 94%), 12% relataram não saber
diferenciar cada escala e 30% não tinha certeza em relação à diferença entre elas. A
NRS foi a escala de dor mais utilizada (53%) e preferida (51%) seguida da EVA (uso
= 35%, preferência = 39%). Os profissionais de saúde (39%) acreditam que a escala
NRS é a mais preferida pelos pacientes. Em relação ao conhecimento dos pacientes
sobre as escalas de dor, 85% relataram não conhecer o FPS-R, 83% a VAS, 80% a
VRS e 66% a NRS. 66% dos pacientes relataram não saber os objetivos das
escalas. Depois de explicados, os pacientes relataram sua preferência da seguinte
forma: FPS-R (46%), NRS (24%), (22%) VRS e VAS (7%). O teste do Qui-quadrado
para análise de ajuste indicou uma diferença estatisticamente significativa nas
preferências de escala para a amostra (Qui-quadrado (3) = 28, p < 0,001). Pacientes
com baixa escolaridade preferem a FPS-R (Qui-quadrado (1) = 6,57, p=0,01) e
aqueles com maior escolaridade preferem a NRS (Qui-quadrado (1) = 5,13, p=0,02).
Conclusão: Os achados indicam uma incongruência entre a escala de dor mais
utilizada e preferida pelos profissionais de saúde e àquela preferida pelos pacientes.
O FPS-R deve ser considerada a primeira escolha para avaliar a intensidade da dor
em amostras com características semelhantes.