Repercussões da pandemia de covid-19 nas ocupações de pré-escolares
Resumo
Introdução: O desenvolvimento infantil é oportunizado pelo engajamento da criança
em ocupações significativas em seu cotidiano. A implementação de medidas de
distanciamento físico no ano de 2020, decorrente da pandemia de COVID-19, resultou
em mudanças abruptas na rotina e na participação dos indivíduos em suas
ocupações. Assim, a vivência do contexto pandêmico alterou as formas usuais de
concretização das ocupações de crianças, o que pode ter prejudicado seu processo
de desenvolvimento. Objetivo: Identificar as repercussões da fase inicial de pandemia
de COVID-19 nas ocupações de pré-escolares. Métodos: Estudo descritivo,
quantitativo e transversal, realizado com 35 familiares responsáveis por crianças com
3 anos de idade, residentes no município do Rio de Janeiro. Foi utilizado questionário
online, autoaplicável, para investigar as modificações na rotina das ocupações infantis
de alimentação, sono, brincar, lazer, interação social, atividade física e atividades em
telas, referentes ao período de março a junho de 2020. Resultados: Observou-se
modificações na rotina de todas as ocupações investigadas. Houve ausência (40%) e
diminuição considerável (37,1%) do contato presencial da criança com seus pares,
bem como com parentes próximos (31,4% e 45,7%, respectivamente). O lazer sofreu
alterações (97,1%) e se tornou menos frequente, mais restrito e voltado ao uso de
telas. O brincar também foi afetado (91,4%), destacando-se redução/ausência de
brincadeiras em ambientes externos, maior demanda da presença do adulto para
brincar, ausência de brincadeiras com pares e o maior tempo de brincadeira em
eletrônicos. Com isso, houve aumento do tempo diário da criança em telas (88,6%).
As alterações na alimentação (88,6%) envolveram maior dificuldade para manter a
organização da rotina alimentar infantil, maior necessidade de ajuda da criança
durante as refeições e as dificuldades na aceitação de alimentos. Nas mudanças
concernentes às atividades físicas (80%), sobressaiu-se a redução da frequência e da
variedade. O sono da criança se modificou para 68,6% dos participantes e foi mais
reportada a mudança nos horários de sono e mais resistência da criança para dormir
ou acordar. Discussão: A fase inicial da pandemia, de maior rigor nas medidas de
distanciamento físico, gerou diversos tipos de restrição e alterou a rotina das famílias
brasileiras. É provável que muitas crianças tenham experimentado o estado de
interrupção ocupacional, o qual pode prejudicar sua saúde e bem-estar. As crianças
tiveram que lidar com restrições importantes em suas ocupações e,
consequentemente, com limitações na diversidade, quantidade e qualidade das
oportunidades para o desenvolvimento infantil pleno. Considerações Finais: As
crianças dos participantes vivenciaram diversas mudanças abruptas em suas
ocupações cotidianas, que denotaram restrições e características principalmente
negativas. Desse modo, é possível afirmar que a vivência do contexto pandêmico
pode assumir a natureza de força despontencializadora do desenvolvimento infantil.