Perfil epidemiológico e sociodemográfico de pacientes atendidos pela fisioterapia em 2022 e 2023 no centro de reabilitação de uma clínica da família localizada no complexo de favelas da Penha.
Resumo
Introdução: Este estudo teve como objetivo analisar o perfil sociodemográfico e
epidemiológico dos usuários atendidos em um Centro de Reabilitação de uma Clínica da
Família no Complexo de Favelas da Penha, Rio de Janeiro. A pesquisa foi motivada pela
experiência da autora como estagiária bolsista na unidade e buscou compreender como o
atendimento de fisioterapia é estruturado e oferecido a uma população predominantemente de
baixa renda. Método: Utilizou-se de uma abordagem quali-quantitativa, com uma pesquisa
documental transversal retrospectiva. Dados foram coletados a partir de 300 prontuários
eletrônicos de usuários atendidos entre 2022 e 2023. Além disso, observações qualitativas
foram registradas em diário de campo durante o período de estágio da autora. As análises
quantitativas foram realizadas utilizando o software SPSS, com a aplicação de testes
estatísticos como Qui-quadrado e o Teste Exato de Fisher. Resultados e Discussão:
Observou-se a predominância feminina (68%) e negra (61%), refletindo a desigualdade de
acesso aos serviços de saúde. As queixas mais frequentes foram condições
traumato-ortopédicas, como cervicotoracolombalgia (25,3%) e fraturas (16%), além de
doenças neurofuncionais, como sequelas de AVC. O tempo médio de atendimento foi de 11,7
sessões em um tempo médio de sessão de 28 minutos. Os resultados dos testes de associação
são: a prevalência de homens dentre os adultos jovens; a prevalência de lesões neurológicas
em pessoas idosas e em homens negros. Adicionalmente, a eletroterapia aparece como o
recurso mais utilizado no setor em detrimento de outras técnicas reconhecidas como mais
eficazes. Há disparidade nos tratamentos oferecidos a diferentes grupos raciais e sexos, com
mulheres e pessoas brancas recebendo mais terapia manual em comparação a outros grupos.
O estudo também revelou limitações no atendimento, como a alta demanda, o baixo número
de profissionais e a adoção de protocolos de tratamento que priorizam a quantidade em
detrimento da qualidade, resultando em atendimentos curtos e repetitivos. Conclusão: Os
resultados indicam que o atendimento de fisioterapia no setor público enfrenta desafios
significativos, incluindo alta demanda, baixo número de profissionais e protocolos de
tratamento que priorizam quantidade sobre qualidade, em acordo com o mercado neoliberal,
excluindo-se as diretrizes do SUS. A pesquisa destaca a necessidade de uma maior adesão aos
princípios do SUS, com foco em uma abordagem mais equitativa e humanizada.