Desenvolvimento e caracterização de carreadores lipídicos nanoestruturados de anfotericina B.
Resumen
A leishmaniose é uma das principais doenças tropicais negligenciadas (DTN). Dentre
os fármacos utilizados na terapêutica para o tratamento desta destaca-se a
anfotericina B (AmB). Este fármaco apresenta baixa solubilidade em meios aquosos
e baixa permeabilidade no trato gastrointestinal (TGI), por conta dessas
características, há apenas formulações intravenosas de AmB disponíveis
comercialmente. No entanto, essas apresentam efeitos adversos mais frequentes
como náuseas, vômitos, febre, cefaleia, hipotensão, anemia e outros graves como
nefrotoxicidade, além do alto custo e necessidade de hospitalização do paciente.
Logo, o desenvolvimento de uma formulação oral de AmB tem o potencial de melhorar
alguns desses empecilhos. As nanopartículas lipídicas destacam-se por facilitarem a
permeação de fármacos pelas membranas das células do trato gastrointestinal e a
absorção pela via linfática, assim como também possuem elevada biocompatibilidade,
custo relativamente baixo e fácil transposição de escala em nível industrial. Dentre
essas, destacam-se os carreadores lipídicos nanoestruturados (CLN), que são
sistemas formados por uma mistura de tensoativo, lipídios sólidos (LS) e lipídios
líquidos (LL), que devem ser miscíveis, garantindo, assim, o encapsulamento do
fármaco. Dessa forma, esse trabalho teve como objetivo o desenvolvimento de um
CLN contendo AmB para uso oral. Para isso, utilizou-se um desenho fatorial D-ótimo,
no qual foram combinados 2 grupos de LS contendo 5 compostos ao todo, 2 LL e 2
tensoativos não iônicos. Foram elaboradas 16 formulações e como resposta do
desenho experimental (variáveis dependentes) foram avaliados o tamanho das
partículas (TP), índice de polidispersão (PDI) e concentração de AmB ([AmB]). Os
resultados demonstram que, dentre as formulações avaliadas, a formulação 12 com a
proporção Inwitor 900 (4%), Capmul MCM (1%), Tween 20 (5%) e água (90%) foi a
que apresentou melhores resultados nos três parâmetros avaliados ([AmB] de 2 mg/g,
119 nm e PDI de 0,3). Entretanto, a formulação 1 com proporção Emprove® (4%),
Phosal® 50 PG (1%), Poloxamer 188 (5%) e água (90%) apresentou maior ([AmB] de
4,84 mg/g) e bom PDI de 0,3, porém o TP (5086,0 nm) demonstrou valores muito
altos, o que inviabilizaria a utilização para uma formulação por via oral, necessitando
assim de mudanças nos processos produtivos para otimização desses parâmetros.
Assim, conclui-se que a formulação desenvolvida apresenta elevada [AmB] e
parâmetros biofarmacêuticos condizentes com o preconizado na literatura para
adequada absorção oral. Testes adicionais de otimização dos CLN devem ser
realizados a fim de avaliar seu desempenho in vivo.