Avaliação da integridade de células endoteliais microvasculares cerebrais durante a infecção por Toxoplasma Gondii: estudo da propriedade de barreira biológica
Abstract
Toxoplasmose é uma doença causada pelo protozoário intracelular obrigatório Toxoplasma
gondii que pode afetar todos os animais de sangue quente, incluindo humanos. O parasito
pode infectar diversos tecidos do hospedeiro na fase inicial da doença, mas em sua fase
crônica desenvolve latência através de cistos teciduais formados por bradizoítos. Estes cistos
são localizados majoritariamente no tecido muscular e no Sistema Nervoso Central (SNC).
Uma vez dentro do cérebro, o parasito parece ser capaz de infectar todos os tipos celulares
que compõe este tecido e foi descrito recentemente que as células endoteliais
microvasculares cerebrais (BMECs) podem servir como forma de entrada do parasito no
SNC, através de sua infecção direta. Células endoteliais estão mecanicamente acopladas
entre si por junções ocludentes (Tight Junctions), conferindo maior integridade à BHE e
proteção do parênquima cerebral. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é avaliar o efeito
da infecção por T. gondii na biologia das BMECs, bem como seu efeito na propriedade de
barreira, in vitro. Para isso, foi utilizado uma linhagem celular endotelial microvascular do
córtex cerebral de camundongos (bEnd.3) e plaqueamos em lamínulas de vidro e infectadas
com taquizoítos de T. gondii da cepa ME49. Após 24 horas de infecção, as células foram
processadas para imunocitoquímica, com marcação para ZO-1 (uma proteína de suporte
para as tight junctions), Ki67 (marcador de proliferação) e um intercalante de DNA (DAPI). A
intensidade da marcação de ZO-1 foi medida pelo software ImageJ. Também foi avaliado
pelo ImageJ o perfil de organização da tight junction pelo macro TiJOR do ImageJ. Para medir
a resistência elétrica transendotelial (TEER) células foram plaqueadas em insertos transwell
com poro de 8 mm. A partir destas análises foi observado uma redução da imunorreatividade
para ZO-1 em culturas infectadas de 35%, acompanhada de uma redução na TEER de 40%
e redução do TiJOR de 48%. Não foi observada alteração significativa nas taxas de
proliferação celular em culturas infectadas. Com os dados gerados neste trabalho,
concluímos que a infecção por T. gondii gera perda na propriedade de barreira das células
endoteliais cerebrais.