Raízes de achillea millefolium: investigação fitoquímica, avaliação do seu potencial antioxidante e estudo in silico das propriedades ADMET
Resumo
Achillea millefolium, conhecida no Brasil como milefólio e novalgina, pertencente à família
Asteraceae, é uma planta perene nativa da Europa, atualmente distribuída por todo mundo
e, no Brasil, é encontrada principalmente na região da Mata Atlântica. As partes aéreas
desta planta são utilizadas na medicina popular para o tratamento de dores, cólica, falta de
apetite e inflamações. Estudos recentes encontraram boa atividade antioxidante dos
extratos das folhas, flores, ramos e inflorescências de A. millefolium, aumentando ainda
mais seu campo de aplicações biológicas. Sabe-se que diversas espécies da família
Asteraceae apresentam em sua composição a presença de alcamidas. Algumas atividades
farmacológicas vêm sendo descritas para alcamidas, tais como anti-inflamatória, analgésica,
antiparasitária, ação antimicrobiana e larvicida. Entretanto, não há relatos na literatura sobre
a utilização de raízes de A. millefolium com atividade antioxidante. Sabe-se, que os
antioxidantes atuam na eliminação de radicais livres do nosso organismo, sendo assim, são
capazes de proteger contra danos causados pelas espécies reativas de oxigênio e em
processos patológicos, como câncer, inflamações e envelhecimento celular. Com isso, o
objetivo deste estudo é analisar a constituição fitoquímica do extrato das raízes de Achillea
millefolium, bem como determinar sua capacidade antioxidante e avaliar as propriedades
físico-químicas, absorção, distribuição, metabolização e toxicidade das alcamidas a partir
das plataformas SwissADME e vNN-ADMET, analisando parâmetros essenciais para um
candidato a fitofármaco. A partir do extrato etanólico das raízes foram identificadas 9
alcamidas, que tiveram suas estruturas elucidadas por meio da técnica de Espectrometria
de Massas em comparação com a literatura. As alcamidas identificadas foram o
isobutilamida do ácido deca-2E,4E,8Z-trienóico (8,9- desidropellitorina), isobutilamida do
ácido deca-2E,4E-dienóico (pelitorina), isobutilamida do ácido undeca-2E,4E-dieno-8,10-
diinóico, piperidinamida do ácido deca-2E, 4E-dienóico, piperidinamida do ácido undeca-2E,
4E-dieno-8,10-diinóico, isobutilamida do ácido tetradeca -2E,4E,12Z-trieno-8,10-diinóico,
isobutilamida do ácido tetradeca-2E,4E-dieno-8,10-diinóico (anaciclina), tiramida do ácido
deca-2E,4E-dienóico e 4-metóxi feniletilamida do ácido deca-2E,4E-dienóico, sendo a
pelitorina a alcamida majoritária. Os resultados das avaliações antioxidantes foram
considerados promissores. A partição em diclorometano apresentou CE50 de 6,9 µg/mL,
apresentando um resultado melhor quando comparado com a quercetina, cuja CE50 foi de
12.84 µg/mL. Ao serem analisadas possíveis interações dessas alcamidas com as isoformas
do citocromo P450, foi observado que a isobutilamida do ácido deca-2E,4E,8Z-trienóico e a
piperidinamida do ácido undeca-2E,4E-dieno-8,10-diinóico não se apresentaram como
inibidores de nenhuma das CYPs. As alcamidas avaliadas quanto à sua cardiotoxicidade
não bloquearam o canal hERG. De forma geral, diante todas as avaliações realizadas, as
alcamidas apresentam boa biodisponibilidade oral frente aos parâmetros físico-químicos e
farmacocinéticos. Sendo assim, são consideradas moléculas interessantes e que podem
servir para o planejamento de fármacos.