Estilos de práticas educativas de pais com alta escolaridade utilizadas na criação de pré-escolares

Abstract

Introdução: Frente à complexa tarefa de educar, a busca por guiar corretamente a criação dos filhos é uma preocupação constante de muitos pais, que fazem uso de estratégias diversas para educar, instruir, socializar e controlar o comportamento dos filhos, denominadas práticas educativas parentais. Diversos fatores influenciam os tipos de práticas educativas assumidas pelos pais no processo de criação dos filhos, dentre eles seu nível de escolaridade. Objetivo: Identificar as práticas educativas utilizadas por pais que possuem elevado nível de escolaridade na criação de crianças em idade pré-escolar. Método: Trata-se de estudo qualitativo, descritivo e transversal. Participaram 30 pais de pré-escolares que possuíam alta escolaridade (pósgraduação stricto sensu ou lato sensu). Os participantes responderam um questionário online, autoaplicável, que averiguou suas características sociodemográficas. Posteriormente, participaram de uma entrevista com roteiro semiestruturado que investigou as práticas educativas parentais. Foi utilizada estatística descritiva simples para analisar as variáveis sociodemográficas e a técnica de análise de conteúdo temático-categorial para examinar os dados obtidos pelas entrevistas. Resultados e Discussão: Houve participação majoritária de mães (87%), de pessoas com elevada condição socioeconômica (87% das classes A e B e 72% com renda familiar mensal acima de seis salários-mínimos), em que 56% possuía pós-graduação stricto sensu. A categoria Práticas Indutivas emergiu de conteúdos externalizados por todos participantes e a análise mais detalhada desses conteúdos viabilizou a definição das subcategorias: Estratégias de Diálogo (97%), Estratégias de Negociação (67%), Tentar entender o motivo do comportamento difícil/desafiador da criança (40%) e Fazer a criança lidar com a consequência de seu comportamento (17%). As estratégias indutivas buscam orientar o comportamento da criança pelo direcionamento racional de sua atenção às consequências de suas ações, que envolvem uma comunicação apropriada a sua idade. Essas estratégias favorecem o desenvolvimento da regulação emocional e comportamental da criança. Identificou-se que a minoria dos participantes (23%) fazem uso de práticas mistas, já que expressaram conteúdos referentes ao uso de estratégias coercitivas. Isto resultou na categoria temática Práticas Coercitivas, que possibilitou o estabelecimento de duas subcategorias: Estratégia de Punição (20%) e Estratégia de Punição Corporal (13%). Estratégias coercitivas reafirmam o poder e a força dos pais, que são usados para coibir o comportamento inadequado da criança e, portanto, não fomentam seu processo de reflexão e compreensão acerca da sua inadequação comportamental. Considerações Finais: O estudo ratifica que o maior nível de escolaridade das figuras parentais predispõe o uso de estratégias de natureza indutiva, o que pode se associar ao maior conhecimento dos pais sobre o processo de desenvolvimento infantil, bem como a maior capacidade de refletir de forma crítica sobre as próprias condutas. Assim, pais com alta escolaridade tendem a priorizar a comunicação com os filhos, demostrar envolvimento afetivo e aplicar estratégias educativas que sejam mais positivas e respeitosas, como também a estabelecer expectativas mais realistas em relação à criança.