O Parque e o Quilombo na cidade de Quissamã : interlocuções para uma educação ambiental na Restinga de Jurubatiba
Abstract
A cidade de Quissamã se desenvolveu a partir um povoamento iniciado
ainda no período colonial, em vastos campos de restinga no Norte
Fluminense; uma grande porção deste território, bastante preservado,
hoje constitui o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. Desde a sua
criação, as ações de Educação Ambiental identificadas na cidade se
mostram incipientes, e há um distanciamento evidente entre a população
e a Unidade de Conservação. Para além das várias realidades que
comumente apartam populações e Unidades de Conservação, apontadas
pelos estudos do campo da Educação Ambiental crítica, a experiência
docente na cidade possibilitou outras inferências que poderiam estar
associadas ao processo de distanciamento, e que conduziram esta
pesquisa a um resgate histórico e consequente extensão do debate a
questões sociais e étnico-culturais. A herança colonial e seu eurocentrismo
no poder, no saber e no ser – colonialidade – impactam fortemente as
dinâmicas sociais da cidade, como demonstrado no processo de criação do
Complexo Cultural da Fazenda Machadinha, na comunidade quilombola
homônima. Este estudo, portanto, se desenhou pela observação da
colonialidade do poder nas diferentes relações em Quissamã, seus
antagonismos e distanciamentos, especialmente nas relações da Educação
Ambiental junto ao Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba.
Investigou-se, por meio de entrevistas, as concepções de Meio Ambiente e
de Educação Ambiental de oito professores de uma mesma Unidade
Escolar da rede municipal de educação, assim como suas relações com o
Parque Nacional e a Fazenda Machadinha. Após análise do metatexto
obtido destas entrevistas, foram evidenciadas a necessidade de
ressignificação do passado da região e da interação entre natureza e
cultura. Estes pontos foram trabalhados no produto educacional, uma
sequência didática que ficou constituída por propostas de atividades com
base na educação patrimonial, tratando de memória, identidade e
esquecimentos, e estimulando a prática de uma Educação Ambiental que
estabeleça diálogos com as filosofias e histórias africanas e indígenas –
outras conexões com a natureza –, dando ênfase ao ser e pensar
colaborativo.