O que pode o corpo do estudante de Ensino Fundamental II? - um elogio a uma escolarização corporificada
Resumo
No presente trabalho, assume-se uma postura em defesa da importância de se
considerar a corporeidade dos estudantes ao longo de seu processo de
escolarização - mais especificamente, dos estudantes do segundo segmento do
Ensino Fundamental. Justifica-se a relevância do olhar para a dimensão corpórea
dos estudantes na compreensão de que o paradigma cartesiano - segundo o qual
corpo e mente são partes dissociadas de um mesmo organismo - colabora para que
as instituições escolares ofereçam aos estudantes uma educação que privilegia a
intelectualidade em detrimento da corporalidade. Essa abordagem é considerada
problemática pois, de acordo com a legislação nacional referente às funções sociais
da escola, a educação deve formar o estudante para seu futuro no mercado de
trabalho, mas também permitir-lhe desenvolver sua sensibilidade, criticidade e
cidadania, dentre outras habilidades que escapam de uma lógica utilitária. É tecida
uma crítica à tendência escolar percebida (pela experiência da autora e pela análise
de questionários realizados com docentes do segmento) de submeter os corpos dos
estudantes a processos disciplinadores que os tornam docilizados e, desse modo,
menos autônomos do que um indivíduo tem direito a ser. Para tanto, o trabalho
investiga as origens da atual configuração do espaço escolar, e analisa a influência
de fatores socialmente distintivos e do paradigma que cinde corpo e mente no
processo de escolarização dos indivíduos. Contrasta-se ao pensamento cartesiano6
a fenomenologia da percepção, de Merleau-Ponty, para embasar o entendimento de
que o corpo, mais que um mero invólucro dos indivíduos, é a parte material que nos
compõe e nos permite experienciar o mundo.