Associação entre polimorfismos gênicos no metabolismo lipídico e a evolução da história natural da infecção pelo vírus da hepatite C

Abstract

A hepatite C é um importante problema de saúde pública, afetando mais de 50 milhõesde pessoas em todo o mundo. A infeção pelo vírus da hepatite C (HCV) tem consequências graves em longo prazo, uma vez que cerca de 70%-80% dos casos evoluem para a cronicidade, até 30% desenvolvem cirrose e 1%-4% ao ano evoluem para o carcinoma hepatocelular. O ciclo infecioso do HCV está altamente associado ao metabolismo lipídico do indivíduo. Polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) em genes envolvidos no metabolismo lipídico, tais como apolipoproteínas e lipoproteínas, são importantes fatores do hospedeiro que podem influenciar na evolução da infecção pelo HCV. Desta forma, o estudo concomitante de caraterísticas clínicas (como o perfil metabólico) e os SNPs no metabolismo lipídico permite avaliar o papel destes polimorfismos genéticos como possíveis biomarcadores de prognóstico na hepatite C crônica. Além disso, podem contribuir para a redução das complicações clínicas e dos custos do sistema de saúde causados por esta infecção. Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar o papel dos SNPs em APOA1 rs964184, APOB rs1042034 e rs676210 e LDLR rs5925 em pacientes brasileiros e suas associações com diferentes desfechos clínicos frente à infeção crônica pelo HCV. Para isso, foram coletados dados de prontuários médicos de 109 pacientes com hepatite C e as amostras de DNA foram extraídas e dosadas. As genotipagens foram realizadas por amplificação por PCR seguida de sequenciamento nucleotídico convencional. Foi visto um desequilíbrio de ligação entre os polimorfismos em APOB rs1042034 e rs676210, sendo assim, utilizamos apenas o rs1042034 para realizar as análises. A frequência de genótipos em APOA1 rs964184 é de 69,7% CC, 25,7% CG e 4,6% GG (n = 109 pacientes), de APOB rs1042034 é de 67% TT, 29,4 % CT e 3,7% CC (n = 109), e de LDLR rs5925 é de 51,9 % CT, 36,1% TT e 12,0% CC (n = 108). Foram encontradas associações entre os genótipos do polimorfismo em APOA1 rs964184 com carga viral pré-tratamento (p = 0,0331) e com níveis séricos de triglicerídeos (p = 0,0340). Também foram encontradas correlações entre o polimorfismo em LDLR rs5925 com níveis séricos de triglicerídeos (p = 0,0052) e com VLDL (p = 0,0138). Em APOB rs1042034 não foi vista nenhuma associação positiva com o HCV. Foram encontradas correlações positivas entre genótipo 1 e carga elevada pré-tratamento, alelo G rs964184 e triglicerídeos, diabetes e sexo masculino, diabetes e hipertensão, hipertensão e sexo masculino, triglicerídeos elevado e VLDL elevado. Foram encontradas 3 correlações negativas: IMC alto e fibrose grave pré-tratamento, IMC alto e cirrose pré-tratamento, RVS e evolução da doença hepática (fibrose pior após o tratamento). Os polimorfismos em APOA1 rs964184 e LDLR rs5925 podem ser considerados bons marcadores de fatores metabólicos do paciente. Entretanto, são necessários mais estudos para investigar a associação desses SNPs relacionados à hepatite C crônica. É importante também verificar a associação entre outros SNPs em outras apolipoproteínas para buscar um potencial biomarcador de prognóstico e condutor de tratamento para pacientes com hepatite C.