Avaliação da mutagenicidade e citotoxicidade de complexos metálicos de azóis com atividade anti-Sporothrix spp
Resumen
A esporotricose, causada por fungos do gênero Sporothrix, é uma zoonose de alta
incidência em regiões tropicais, sendo endêmica no Brasil, principalmente no Estado
do Rio de Janeiro. Embora essa micose subcutânea seja uma doença reconhecida há
mais de um século, ainda possui poucas opções de tratamento, frequentemente
associadas a casos de resistência e falha terapêutica, ademais dos diversos efeitos
adversos e restrições. Desta forma, a pesquisa sobre novas opções quimioterápicas
se faz necessária, buscando agentes mais seguros e eficazes para o tratamento da
doença. Estudos recentes têm investigado a ação de derivados azólicos complexados
a metais de transição, buscando observar um efeito sinérgico nessa combinação,
potencializando a ação do fármaco. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar
a mutagenicidade e citotoxicidade in vitro dos complexos metal-azol MNJA-77 e MNR10V2, visando identificar uma alternativa terapêutica potencial de maior seletividade
para a esporotricose. O potencial mutagênico foi avaliado através do teste de Ames,
na presença e ausência de ativação metabólica, nas cepas TA97a, TA98, TA100,
TA102 e TA1535 de Salmonella enterica sorovar Typhimurium. Para avaliação do
potencial citotóxico foram empregadas linhagens celulares de hepatocarcinoma
humano HepG2 e fibroblastos embrionários de camundongo BALB/3T3 clone A31 nos
ensaios de WST-1 e LDH. Na presença de ativação metabólica, o composto MNJA77 induziu citotoxicidade nas concentrações a partir de 0,05 μM para TA1535,
concentrações de 0,5 e 5 μM para TA97a e na concentração de 5 μM para TA98. Para
o composto MN-R10V2, na presença de ativação metabólica, foi possível observar
citotoxicidade na concentração de 5 μM para cepa TA100 e nas concentrações a partir
de 0,005 μM para TA97a. MN-R10V2 também induziu citotoxicidade na ausência de
ativação metabólica, apenas na concentração de 5 μM para a cepa TA97a. Os ensaios
realizados com os complexos MNJA-77 e MN-R10V2 mostraram que não houve
detecção de mutagenicidade em nenhuma das cepas avaliadas na presença e
ausência de ativação metabólica. Também não foram observados comportamentos
dose-dependentes significativos para citotoxicidade. De forma geral, o complexo MNR10V2 se mostrou mais citotóxico nos ensaios de WST e LDH. Eventos citotóxicos
foram mais observados nos ensaios de LDH, sugerindo dano por rompimento de
membrana celular ou alteração de permeabilidade celular, mais relacionada a
necrose. Em síntese, os compostos não apresentaram indícios de genotoxicidade e
hepatotoxicidade em baixas concentrações, indicando os complexos metálicos como
candidatos promissores na busca de antifúngicos mais seletivos para o tratamento da
esporotricose.